Consumo de crack já tem
registros em 90% das cidades brasileiras
O
problema de saúde que surgiu nos maiores centros urbanos passou a ser desafio
para as autoridades de todo o país. A droga causa destruição mesmo nas regiões
mais pobres e afastadas.
Um problema de saúde que surgiu nos
maiores centros urbanos brasileiros passou a ser um desafio para as autoridades
de todo o país. Segundo a Confederação Nacional dos Municípios, o consumo de
crack já tem registros em nove de cada dez cidades. É uma situação que os
repórteres Ismar Madeira e Saulo Luiz comprovaram no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais.
O sertão mineiro, no Vale do
Jequitinhonha, é uma região pobre, de um povo simples. Na pequena Araçuaí,
Seu Ailton sempre trabalhou duro para ganhar a vida com dignidade, e agora vê o
filho de 16 anos seguir outro caminho. “Esse aí entrou lá no meu serviço, no
meu comércio, pegou mercadoria minha, mas muita e muita e muita. Quando eu
descobri, foi tarde”, ele conta.
Em casa, já não tem mais o que
roubar. Ficaram só alguns móveis. No quarto, o material usado para consumir
crack. “Enquanto tem, eu fumo”, confessa o jovem.
O problema na família é em dobro. O
filho mais novo também se viciou em crack, aos 11 anos de idade. “Essa droga
chegou de repente. Ela veio para destruir a gente, mas para acabar com a vida
da gente”, lamenta Ailton.
A poucos quilômetros de Araçuaí, em Itaobim,
é principalmente à noite que o tráfico toma conta das ruas, em várias bocas de
fumo.
Em todo o Vale do Jequitinhonha, o
consumo do crack chegou acompanhado do aumento da violência. No município de
Itaobim, o volume de apreensões da droga cresceu 73% nos últimos dois anos. E
jovens têm perdido a vida, envolvidos com o tráfico. Kaíque foi assassinado aos
15 anos de idade. E o irmão dele, Johni, foi morto aos 17 anos.
A avó diz que os adolescentes deviam
dinheiro aos traficantes. “Eles vieram aqui na porta, ameaçaram eles. Falaram
com eles assim: ‘Se vocês não voltarem para vir pagando de novo, nós vamos te
matar, nós vamos matar vocês, todos os dois’”, ela lembra.
Os roubos se tornaram frequentes.
“Principalmente em Araçuaí e na região, esses pequenos furtos realmente estão
aumentando para a manutenção do vício”, avalia o tenente Gilamárcio da Rocha,
da Polícia Militar de MG.
Outro jovem traz no corpo as
cicatrizes do tráfico. “Já levei tijolada, tiro, já levei tapa na cara,
porrada”, ele revela.
A mãe passou a usar um método
radical para impedir que ele saia de casa para usar crack. “Está sempre aí na
cama. Acho que já tem mais de um ano que uso essa corrente e este cadeado. Resolve
porque aí ele não vai para a rua”, ela diz.
“Toda noite ela me prende na cama. É
bom, para eu não ir para a rua usar droga”, diz o rapaz.
No Vale do Jequitinhonha, não existe
nenhum programa de atendimento aos dependentes de drogas.“O problema chegou ao
interior. O tratamento desse problema ainda não veio”, explica Leda Marques
Borges, secretária de Desenvolvimento Social de Araçuaí.
“Não há como tratar o usuário do
crack em algumas instâncias, se não houver uma internação para desintoxicação.
E essa internação, muitas vezes, tem que ser forçada. Senão fizermos isso, o
problema vai continuar se avolumando no Brasil. Há indícios de que ele já está
presente em mais de 90% dos municípios brasileiros, é um fenômeno de norte a
sul, de leste a oeste. Não há mais dúvida: vivemos uma grave epidemia de uso de
crack no Brasil”, alerta o sociólogo Luiz Flávio Sapori.
Mas há exemplos de que é possível
superar o problema. Há dez anos, Abrão visita as famílias de dependentes
químicos em Itaobim. Passou a buscar ajuda para quem pedia. Foi assim que
Douglas largou o vício. Pediu socorro depois de levar um tiro na perna.
“Ajuda. Primeiramente Deus, segundo,
as pessoas que me ajudaram”, ele diz sobre o que considera que foi fundamental
para a recuperação.
O PM formado em enfermagem, com
pós-graduação em dependência química, vem improvisando no socorro às vítimas do
crack. Conseguiu o apoio de empresários, de clínicas ligadas a igrejas e da
Secretaria Municipal de Saúde. Douglas está há quatro meses sem usar droga, depois
de quase 15 anos de dependência.
“O vício da droga é experimentá-la.
Eu, graças a Deus, tive tempo ainda. Mas tem vários que não tem tempo mais”,
alerta Douglas.
http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2012/02/consumo-de-crack-ja-tem-registros-em-90-das-cidades-brasileiras.html
A reportagem acima é
uma produção do Jornal Nacional, mostrando a destruição que o crack está
trazendo para as cidades brasileiras. Ela mostra o desafio que as drogas
constituem para as autoridades, a começar pela estatística alarmante: 90% das
cidades brasileiras têm usuários de crack. A reportagem dá o exemplo de um
jovem de 16 anos, que para sustentar o vício, roubou mercadorias da loja do seu
pai e objetos de valor na sua casa. E o problema não acaba por aí, os irmãos mais
velhos, às vezes, podem influenciar os mais novos, que acabam entrando no
vício, é o caso dessa família, em que o filho mais novo de 11 anos.
A produção do JN
mostra ainda, que com o aumento do tráfico, houve um aumento significativo no
número de mortes e na violência (roubos, sequestros, etc.); jovens perdem a
vida pela dívida com os traficantes. Além disso, as famílias que têm no seu
convívio pessoas relacionadas ao tráfico convivem com a insegurança, gerada por
ameaças dos traficantes, por dívidas ou por um indivíduo denunciar o tráfico à
polícia.
O crack causa tanta
destruição que algumas famílias tomam medidas para atenuar o desenvolvimento
dessas consequências, como o caso de uma mãe desesperada com as ameaças dos
criminosos, que acorrenta o filho na cama para ele não poder ir à rua consumir
a droga.
No vídeo, ainda há o
comentário de especialistas falando sobre a estrutura das clínicas de
reabilitação dos dependentes no Brasil. Os comentários comprovam que a situação
é bastante preocupante, já que existem pouquíssimas unidades de tratamento no
país.
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